sexta-feira, 3 de junho de 2011

o jogo da parlenda

um dia eu sai pelo mundo, caminhando sem eira nem beira, e, bom no meio da estrada, encontrei um bando de amigos que riam e brincavam juntos, repetindo palavras em conjunto...
eu fui por um caminho... eu também encontrei um passarinho... eu também encontrei um dedo minidinho... eu também seu- vizinho, eu também pai de todos, eu também fura- bolos, eu também cata- piolhos. eu também... eu quis participar da brincadeira e recitei: batatinha quando nasce... espalha a rama pelo chão. menininha quando dorme... põe a mão no coração.
eles gostaram do meu versinho e me convidaram para seguir caminho. fomos andando devagarizinho, recitando bem baixinho... um, dois, feijão com arroz. três, quatro, feijão no prato.
cinco, seis, chegou minha vez.
sete, oito, comer biscoito.
nove, dez, comer pastéis.
de repente, passou um homem correndo. levei um susto quando ouvi alguém dizendo:
rei
capitão
soldado
ladrão
menino
menina
macaco
simão
o homem que corria olhava para trás e ria, ao mesmo tempo que nos dizia:
sola, sapato,
rei, rainha.
onde quereis
que eu vá dormir?
na casa de mãe
aninha.
de repente, o homem sumiu, e subitamente, chegamos numa casa diferente, onde tudo parecia infrequente.
pensei que tinha ficado até doente.
senti tanto sono que perdi a fome e até esqueci meu nome.
mas, quando eu quis adormecer, me mandaram obedecer, declamando:
hoje é domingo,
pé de cachimbo.
cachimbo é de barro,
bate no jarro.
o jarro é de ouro,
bate no touro.
o touro é valente,
bate na gente.
a gente é fraco,
cai no buraco.
o buraco é fundo,
acabou- se o mundo.
eu lhes disse que estavam errados, que aquilo era esquisitice, porque o domingo nem tinha chegado:
amanhã é que é domingo,
pé de cachimbo.
galo monteiro
pisou na areia.
areia é fina,
que dá no sino.
o sino é de ouro,
que dá no besouro.
o besouro é de prata,
que dá na barata.
a barata é valente,
que dá no tenente.
o tenente é mofino,
que dá no menino.
o menino é danado,
que dá no soldado.
o soldado é valente,
que dá na gente...
ninguém me ouvia, ninguém me compreendia.
era hora do jantar, ninguém queria saber de esperar. e a  cozinheira, em lugar de cozinhar, só sabia provocar:
eu estou fazendo papa!
para quem?
para joão manco.
quem o mancou?
foi a pedra.
cadê a pedra?
está no mato.
cadê o mato?
o fogo queimou.
cadê o fogo?
a água apagou.
cadê a água?
o boi bebeu.
cadê o boi?
foi buscar milho.
para quem?
para a galinha.
cadê a galinha?
está pondo.
cadê o ovo?
o padre bebeu.
cadê o padre?
foi dizer missa.
cadê a missa?
já se acabou.
sente- me á mesa perdi um salgado, mas eles só tinham um feijão aguado.
pedi doce, como se nada fosse, dizendo-lhes assim:
um dia, o doce perguntou ao doce
qual era o doce mais doce.
e o doce respondeu ao doce
que o doce mais doce
é o doce de batata- doce.
estranhei minhas próprias palavras: será que estava ficando maluca? ou tinha virado biruta? será que eu estava ficando chata? eles riram de mim e cantaram assim:
no morro chato
tem uma moça chata
com um tacho chato na cabeça.
moça chata, esse tacho chato é seu?
fiquei brava, fiquei tonta, mas, quando vi, já tinha dito estas palavras:
sei a liga me ligasse,
eu ligava a liga.
mas, como a liga não me liga,
eu não a liga.
- vocês são birutas e eu estou cansada! - reclamei.
- por que " isso "? - protestei. e eles me responderam " aquilo ":
é porque a aranha aranha a jarra,
a jarra arranha a aranha.,
nem a aranha aranha a jarra,
nem a jarra arranha a arranha.
eu já tinha virado uma onça.
mesmo assim, meio sonsa,
perguntei o prquê
daquela conversa tonta.
eles me olhavam e cantarolaram:
porque um ninho de carrapatos,
cheio de carrapatinhos.
qual o bom carrapateador
que o descarrapateará?
um ninho de mafagafos, com sete mafagafinhos.
quem os desmafagafizer, bom desmafagafizador será.
um ninho de mafagafa, com sete mafagafinhos.
quem os desmafaguifar, bom desmafaguifador será.
e, quando eu ia lhes dizer que não era louca, abri a boca e percebi que já estava saindo bobagem feita por uma cabeça- oca...
lá em cima do piano
tem um copo de veneno.
quem bebeu
morreu.
sol e chuva,
casamento de viúva.
chuva e sol,
casamento de espanhol.
um sapo dentro do saqco.
o saco com o sapo dentro.
o sapo batendo o papo,
e o papo cheio de vento.
então, pensei que eles fossem brigar, pensei que eles fossem reclamar, mas eles gostaram muito de minha fala atrapalhada, e eu só ouvi um monte de gargalhadas.
ganhei um doce e um presente, com um  bilhetinho que dizia:
entrou por uma porta,
saiu pela outra.
quem quiser
que conte outra.
e agora, queridos leitores?
quem foi que inventou tanta maluquice?
será que fui eu mesma?
será que foram meus avós? meus tataravós?
aqui, no brasil, na africa, na espanha ou em portugal?
bem, seja lá qual for a melhor resposta,
uma coisa é certa:
parlenda é prova de que, para brincar,
basta inventar, com palavras, com carinho,
com imaginação.
e isso é coisa que toda criança,
em qualquer parte do mundo,
já nasce sabendo.

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